sexta-feira, março 16

Tratamento político do infarto agudo

Um policial de seus 50 anos, gordinho, chegou ao Pronto Socorro pálido, suando frio, um pouco tonto, queixando-se de uma dor forte no peito, em aperto, que se irradiava para o braço esquerdo e para o pescoço. Contou que a dor começara uns quarenta minutos antes, durante uma pelada, e que já vinha tendo alguns episódios de dor parecidos, especialmente quando nervoso, mas que normalmente melhorava depressa, se ele relaxasse, fumasse um cigarro.

Nos velhos tempos da Medicina, eu ficava preocupado, dava AAS pra mastigar, oxigênio, media a pressão, fazia um eletro em, no máximo, dez minutos e, conforme o resultado, partia pra um Isordil debaixo da língua, propranolol, clopidogrel, talvez morfina, nitroglicerina, heparina, trombolíticos na veia. Talvez, até uma angioplastia de urgência.

Dessa vez, já fiquei mais tranqüilo, porque aprendi com os intelectuais de plantão que a resposta para tudo é a Educação.

Então, eu me sentei calmamente à beira da cama e expliquei que ele não devia ter fumado por tantos anos. Devia ter feito uma dieta com menos sal e gorduras, e exercícios regulares, para perder peso. Devia ter procurado um médico, para controlar a sua pressão, fazer exames de rotina e, se necessário, tomar remédios para baixar o colesterol e o açúcar. Que não podia ter arriscado tanto, ainda mais com uma profissão tão estressante, e com tantos casos de doença cardíaca na família.

Fiquei chocado quando ele morreu! Tinha entendido que essa conduta era infalível. Pode ser que, com o exemplo, seus netos nunca comecem a fumar, aprendam a se alimentar adequadamente, e não cheguem à mesma situação. Ou seja, tem efeitos no futuro, mas o paciente de hoje morre mesmo. Fiquei pensando... Acho que é preciso fazer as duas coisas.

Não funciona na Saúde. Não funciona na Segurança Pública.

N.A.: Perdão pela linguagem técnica.